UM RIO QUE UNE

Durante muito tempo os rios foram barreiras naturais de difícil transposição, em tempo de guerra foram linha separadora entre exércitos inimigos, limitadores da sua progressão, palcos de vitórias e derrotas militares. Muitos rios são também a fronteira que divide países, concelhos e freguesias. Com o tempo, o homem foi descobrindo formas de aproximar quem vivia em margens opostas, através da travessia de barco ou, mais tarde, da construção de pontes.

Os rios constituem unidades ambientais importantes, contribuindo para a cultura das populações ribeirinhas, onde se constitui uma identidade, com traços comuns que vão da nascente até à foz. Não admira, pois, que os Homens que nasceram e vivem à beira-rio procurem estabelecer pontes de amizade e cooperação com aqueles que comungam da mesma identidade.

O Rio Lima, que tantos poetas inspirou, que tanta riqueza trouxe e traz aos limianos, está a ser palco de um interessante movimento de cooperação e intercâmbio, que une duas localidades germinadas há 30 anos: Xinzo de Limia e Ponte de Lima, que nasceu com o "Abraço ao Rio Lima", uma iniciativa promovida pela Área Protegida as Lagoas e pelo Município de Ponte de Lima há cinco anos, no dia 1 de outubro, onde mais de um milhar de crianças das escolas do concelho e de Xinzo de Limia dão as mãos bordeando as margens do Rio Lima e lançando um forte grito aos autarcas e população em geral, para que se mobilizem em torno do maior recurso ambiental das zonas ribeirinhas por onde passa. O Lima de Diogo Bernardes, António Feijó, António Ferreira, Teófilo Carneiro ou Cláudio Lima, é o centro das atenções das escolas e dos seus alunos.

Nos dias 16 e 17 de abril, uma comitiva de cerca de 90 alunos das Escolas Básicas de Ponte de Lima, Ribeira e Lagoas rumaram a Xinzo de Limia para, agora bem perto da nascente, dar um grande abraço ao Rio Lima, que une tanta gente desde a pequena poça onde nasce, até à foz em Viana do Castelo. Foi com grande sentimento, e ao som da incontornável e profícua poesia inspirada pelo Lima que decorreu o abraço em Xinzo, depois de uma bela receção onde estiveram presentes as figuras de proa dos dois concelhos, respetivamente o Alcalde de Xinzo, António Perez e o Presidente do Município Limiano, Victor Mendes.

Após o abraço, num parque público ribeirinho, foi enterrado uma "cápsula do tempo", onde foram inseridos dois jornais, um da Galiza e o "Alto Minho", juntamente com o poema lido por alunos de escolas de Xinzo e de Ponte de Lima e uma nota explicativa do evento que acabava de ter lugar. Nesse mesmo parque foi plantada uma árvore, que simboliza o momento do encontro entre as duas comitivas e a amizade que une as duas localidades. Após o almoço teve lugar o momento com maior simbolismo para as crianças limianas, que tiveram oportunidade de visitar a nascente do "seu" Rio Lima, com a promessa de nunca o esquecerem. Mais tarde, ainda se deslocaram à aldeia de Couso Galan, onde o Lima já começa a ter algum caudal. A pernoita aconteceu também nas margens do "rio do esquecimento", no albergue "O Corgo" no concelho de Muiños, junto da albufeira da barragem "As Conchas".

A segunda jornada permitiu a todos os alunos o alargamento do conhecimento da região, com a visita ao conjunto arqueológico de Aquis, em Bande e aos dolmens de Maus de Salas.

O regresso foi pautado pela alegria e a enorme satisfação de duas jornadas de confraternização e aprendizagem muito profícuas, que agora vão ter continuidade com contactos entre as escolas envolvidas, que voltarão a encontrar-se a 1 de outubro do corrente ano, para mais um "Abraço ao Rio Lima", desta feita em Ponte de Lima.

A deslocação dos alunos das escolas de Ponte de Lima foi efetuada com o apoio e empenho do Município de Ponte de Lima.